A
sala-ambiente de língua portuguesa deve ser um espaço previamente
preparado e organizado para que a leitura e a escrita possam acontecer
de forma significativa, ou seja, o trabalho com a língua materna
deve garantir a função social do texto. Assim como o aluno aprende
as regras da língua falada a partir dos diferentes padrões de
fala que ouve em seu meio, ele também necessita de muitos e variados
exemplos de como a estrutura da língua funciona, para que possa
apreendê-la. O espaço reservado à sala-ambiente para desenvolver os conhecimentos sobre a leitura e a escrita deve ser prazeroso e acolhedor, visualmente estimulante, o que constitui condição para a motivação do aluno, facilitando, assim, a apropriação do conhecimento. Essa apropriação se dá na interação do aprendiz com seus parceiros e com os textos, jogos ou outros materiais. Portanto, ao organizar o espaço da sala, é importante que o professor considere a necessidade de criar um ambiente favorável às interações entre os alunos.
O
material pode ser organizado por gênero ou assunto, ficando acessível
aos alunos, de maneira que possam manuseá-lo e lê-lo sempre que
sentirem necessidade, assim como durante horário destinado à leitura,
escrita e aos jogos. Sugere-se que o professor monte canto do
jornal, dos gibis, das revistas, dos livros de literatura, dos
filmes, dos CDs, das fantasias, das sucatas, dos textos elaborados
pelos alunos, das gravuras e, também, reserve um espaço na parede
para o mural. Há, também, o espaço dos demais recursos didáticos: papéis da diferentes tamanhos (cartolinas, sulfite), lápis pretos apontados, pastas, canetinhas coloridas, distribuídos em latas ou prateleiras em lugares acessíveis, de modo que os alunos possam fazer uso deles de forma independente. Esse material organizado na sala facilita o trabalho do grupo-classe. Por exemplo, o uso de pastas para arquivar os textos de autoria dos alunos; o uso de cartolina e de canetas coloridas para elaborar um cartaz com um texto propagandístico, divulgando um evento que irá acontecer na escola. É importante afirmar que essa preocupação deve ser comum na sala das séries iniciais, mas cabe dizer que a sala-ambiente da 5a série em diante também deve possuir esse material organizado, uma vez que os jovens também sentem o prazer por novos materiais e por diversos instrumentos de escrita.
Os
livros de literatura historicamente têm o seu lugar de destaque
na sala de aula, pois possibilitam uma melhor compreensão do mundo,
dos valores sociais e culturais da sociedade. Através da leitura
de contos, histórias, lendas, poesias, o aluno tem acesso a diferentes
mundos, idéias, conhecimentos, dando asas à imaginação e à criatividade. A criança ao manipular as letras soltas, no Ciclo Básico, reconhece as semelhanças e ao mesmo tempo em que, vai aprendendo a nomeá-las, vai estabelecendo relações de correspondência entre sons e letras e percebendo a ordem das letras na palavra. Pode-se propor aos alunos, organizados em duplas, a escrita de listas de palavras contextualizadas, títulos de histórias lidas pelo professor e atividades que enfatizem o diferente número de letras nas palavras, o diferente número de palavras no texto, a letra inicial, etc. Estas são situações que propiciarão a evolução da escrita. O alfabeto de plástico indicado para fazer parte dos materiais na sala-ambiente das séries iniciais, possibilita criar situações nas quais, com base no que conhecem, as crianças atinjam patamares próprios de compreensão do sistema de base alfabética. A sala-ambiente como espaço para o jogo O jogo presta-se às atividades não só de linguagem (falar/ouvir/ler/escrever), mas também para refletir sobre a escrita convencional. Nesse sentido, o uso de palavras cruzadas permite que os alunos teçam novas combinações entre as letras, discutam possibilidades e interajam para somar conhecimentos e alcançar resultados pretendidos. Esse jogo dá a oportunidade de explorar as palavras: contar as letras, analisá-las, fazer análise fonética, brincar com a sonoridade, com a ordem, com a semântica. É importante ressaltar que a ortografia é um desafio que se coloca permanentemente para as crianças que já se apropriaram do modo como se constrói a escrita alfabética. Além de possibilitar às crianças a explicitação das diferenças entre língua falada e língua escrita, a explicação de algumas regras ortográficas, o desenvolvimento do jogo, palavras cruzadas, auxiliam na compreensão e memorização das diversidades encontradas na língua materna. O
uso do bingo de letras, principalmente nas primeiras séries do
ensino de 1o grau, leva à compreensão do sistema de base alfabética,
pois com ele os alunos podem refletir sobre quantas e quais letras
são necessárias para a representação da palavra, bem como operar
sobre os aspectos relacionados à escrita correta das palavras.
Esse jogo possibilita ao aluno, não só das séries iniciais, mas
também das 5ª e 6ª séries, refletir sobre a escrita ortográfica
de palavras de um mesmo campo semântico, como nomes de pessoas,
de países, de animais; sobre a escrita de diferentes palavras
iniciadas ou terminadas com uma letra sorteada pelo professor;
assim como refletir sobre o estabelecimento de relações entre
a linguagem oral e a linguagem escrita, isto é, a correspondência
entre a escrita das palavras e sua sonoridade. Os fantoches, as fantasias e o jogo dramático Um outro material indicado para fazer parte da sala-ambiente é o conjunto de fantoches de mão e palco, fantasias e/ou vestuários, adereços e máscaras, pois o professor poderá, por meio desse material, explorar a narratividade que os alunos trazem desenvolvida, inicialmente, no meio em que vivem. A maioria dos alunos tem interiorizadas as estruturas provenientes das histórias de fadas, das aventuras, dos programas de TV, do anedotário popular. A sala-ambiente deve ser um espaço rico, onde o professor junto com os alunos possam criar situações para "brincar" de teatro, montar telenovelas, radionovelas, propagandas, experienciar o jogo dramático, viajar para outros espaços e outras épocas, dialogando com o possível e o impossível, deixando-os viver representando o real, descobrindo formas de interpretar e ler o mundo, e recriar a própria vida.
Além
dos materiais estruturados, o professor poderá propor aos alunos
a confecção de outras fantasias, adereços e máscaras feitas com
sucatas (saquinhos de papel, tecidos usados, papel crepom e outros)
para a dramatização de histórias contadas pelo professor, criadas
pelos alunos (individual ou coletivamente) e para toda representação
que as crianças puderem experienciar através do jogo simbólico.
À medida que os diversos tipos de texto são vivenciados, os alunos
irão perceber que a escrita varia de acordo com suas finalidades. Os filmes produzidos a partir dos clássicos infantis (Branca de Neve e os Sete Anões, Chapeuzinho Vermelho, Pinóquio, e outras), e das narrativas contemporâneas (A Pequena Sereia, Chico Bento, O Rei Leão, 101 Dálmatas, Quero ser Grande e outras) devem fazer parte da sala-ambiente das séries iniciais, pois apresentam uma linguagem específica para construir o significado, baseada em uma combinação de texto escrito, músicas, ruídos e, especialmente, de imagens em movimento. Para as demais séries, os filmes produzidos a partir de obras clássicas (A Moreninha, A Escrava Isaura e outras), informativas (Gaijin - caminho da liberdade, Gandhi e outras), Ficção (Jurassic Park), infantis (Pedro e o Lobo, Peter Pan, O Rei Leão) poderão também enriquecer o trabalho com as atividades de linguagem, de operação e reflexão sobre o texto e as atividades de metalinguagem. A partir do contato com uma diversidade de filmes disponíveis no mercado, cujas narrativas enfocam aspectos relacionados à realidade dos alunos, o professor poderá propor inúmeras situações de ensino-aprendizagem, priorizando o ensino formal da língua escrita. A troca de informações gerada pelo questionamento dos assuntos tratados nos filmes ajudará o aluno a desenvolver a competência leitora em níveis crescente de sutileza e complexidade. A partir dessa troca para a busca de significado, é fundamental propiciar aos alunos diferentes situações para o desenvolvimento da linguagem escrita como, por exemplo, produzir um texto opinativo, individual ou em duplas, sobre o assunto tratado no filme. Pode-se
também solicitar a escrita do discurso direto, obedecendo a pontuação
correta, que aparece num momento da narrativa, ou ainda, descrever
personagens da história a que se assistiu.
Diferentes
situações podem ser propostas a diferentes grupos de alunos. Uma
delas é organizá-los em grupos para usar os jogos, com a finalidade
de trabalhar as questões ortográficas e, ao mesmo tempo, propor
a outros a seleção de textos opinativos, pesquisados nos jornais,
para a leitura em classe. Pode-se, ainda, organizar a sala-ambiente
para desenvolver diferentes projetos de leitura e escrita, de
maneira que todos os alunos sejam envolvidos.
Clube de Leitura (5ª e 6ª séries) Os
alunos organizados em grupos escolhem no acervo da sala-ambiente,
segundo critérios preestabelecidos em conjunto, os livros que
serão lidos e discutidos com o grupo de colegas e estabelecem
o tempo para cada aluno ler a obra selecionada. Oficina de leitura e escrita: trabalhando com narrativas (Séries Iniciais) O
projeto é para ser desenvolvido durante duas semanas. Um momento importante após esta leitura é a discussão em grupo sobre o texto lido, para que os alunos possam confrontar suas hipóteses, opiniões, desacordos e sentimentos com seus colegas, ocasião em que tomam consciência de seu próprio conhecimento sobre o assunto, bem como dos aspectos de seu discurso em que há contradições.A leitura em voz alta pelo professor deve ser o último momento. As crianças devem acompanhá-la em seus próprios textos. No caso dos alunos iniciantes, que ainda não desenvolveram boas estratégias de leitura, esta situação possibilitará a leitura do texto todo. Depois de comentar com os alunos a história, deve-se levantar quais são os fatos que se repetem. O professor poderá ler novamente o texto, para que os alunos possam dizer com maior facilidade os trechos que se repetem. Em seguida, o professor registra os fatos que se repetem em um cartaz e deixa em exposição na classe. No dia seguinte recorda a história com a classe, utilizando o registro do dia anterior, e retoma o conto a partir de algumas perguntas, como: Qual é o nome da história? Como ela começa? Qual é o personagem principal? O que acontece depois? Qual o fato que se repete? Que palavras ou frases se repetem? Como termina a história? No terceiro dia, o professor pode retomar o processo com a leitura de outro texto, por exemplo, Os Três Porquinhos. Chama a atenção das crianças para as repetições de palavras ou frases, fazendo perguntas como: O que vocês acham que acontecerá depois? Por que vocês acreditam que vai acontecer assim? Por que o personagem vai dizer/perguntar isso? Essas perguntas mostram às crianças que a estrutura do texto lhes permite fazer predições. No quarto e quinto dia, as crianças, em duplas, devem selecionar outros contos do acervo de livros da sala-ambiente para a leitura. No quinto dia, cada criança elege seu conto favorito, reescreve e ilustra o texto. No sexto dia, o professor poderá propor aos alunos, em duplas, que sugiram idéias para a escrita de um conto. O levantamento deve ser feito após a discussão em duplas. É importante o professor definir, com as perguntas, quem será o personagem principal, qual será o problema, etc. Depois que as crianças desenvolverem oralmente um plano, estão prontas para ditar um primeiro rascunho. As crianças devem fazer o registro, no próprio caderno, do texto produzido, que será retomado no dia seguinte. No sétimo dia, o texto deverá ser afixado para a leitura e para fazer as possíveis revisões. A leitura feita no dia seguinte possibilita um certo distanciamento, que favorece uma análise crítica do texto. Assim, as crianças relêem, e o papel do professor é fazer relações com outros contos que foram lidos pela classe, de modo a incentivar a modificação e a melhoria do texto. Os alunos costumam sugerir que se acrescentem descrições de cenas ou de personagens, que se mude a seqüência de alguns fatos ou falas de personagens. O professor deve provocar a revisão da gramática da frase e estimular os alunos a introduzir conectivos, de forma a tornar a leitura do texto mais compreensível ou mais divertida. Finalmente, o conto deverá ser escrito em uma folha grande de papel e afixado na sala. Pode-se fazer cópias para as crianças ou solicitar que copiem o texto. Cada um poderá ilustrá-lo como quiser. O trabalho com contos não se encerra com a produção coletiva. Durante os próximos três dias dessa atividade, os alunos poderão escrever seus próprios textos. O professor deverá fazer junto com o autor do texto a revisão ortográfica necessária. Projeto: Campanha para uma comunidade sadia (7ª, 8ª séries e Ensino Médio) O projeto é para ser desenvolvido durante 20 dias. O
objetivo é conscientizar os vizinhos sobre a necessidade de preservar
o meio ambiente de sua comunidade. O professor poderá propor que seja montada, em classe, uma espécie de agência publicitária para organizar uma campanha no bairro. Devem ser selecionados pelo grupo, os materiais que poderão servir de instrumentos de divulgação na comunidade, cartazes e/ou folhetos. Além disso, é preciso planejar uma palestra para ser proferida para as demais séries, a fim de conscientizar os alunos sobre a problemática. Para conhecer a estrutura dos materiais a serem elaborados, o professor pode solicitar aos alunos que tragam para a classe folhetos e cartazes que são distribuídos nos semáforos, nas residências e, também, nos jornais de grande circulação. Os alunos, em classe, deverão observar os diferentes portadores e suas características. Deve-se chamar a atenção deles para os dados gráficos e textuais. Na sala-ambiente, os alunos deverão pesquisar, nas diversas revistas, nos manuais didáticos, e também na biblioteca da escola, em enciclopédias, os aspectos da poluição ambiental a fim de ampliar os conhecimentos para que possam enfrentar adequadamente a organização da informação. Os textos informativos devem ser lidos e discutidos em aula por todos, socializando assim todas as informações. O professor poderá, também, contribuir com outros artigos. Caso os alunos façam a opção por cartazes e folhetos, estes deverão ser confeccionados por duplas, e seus trabalhos serão revisados com a participação de outras duplas, para então serem passados a limpo. O professor fará com os alunos a revisão final. É importante estabelecer o que cada dupla deverá produzir, um cartaz e/ou um folheto. Assim que o material estiver pronto, será eleita uma equipe responsável para proferir uma conferência na escola sobre o assunto tratado. Após a divulgação na escola, serão afixados os cartazes no bairro (nos lugares onde for permitido), e os folhetos serão distribuídos. Elaboração: |