Sala ambiente - Geografia |
Índice:
Por
que sala-ambiente de Geografia?
A Geografia se constrói a partir de debates,
confrontações, relatos de vivência e outras
situações que devem ter, como pano-de-fundo, um
ambiente propício, uma sala-ambiente.
Assim, ensinar GEOGRAFIA é gratificante quando
podemos contar, com uma variedade de recursos materiais e humanos.
Mesmo no âmbito da escola, muitas vezes, encontramos muitas
coisas, mas disso não nos damos conta.
Como
compor a sala-ambiente de Geografia?
Mobiliário:
- arquivo de mapas, devidamente etiquetados, de
fácil identificação, enrolados - recipiente
adequado (caixa, barrica etc.);
- armários fechados para aparelhagem em geral;
- gavetas ou caixas para materiais de pequeno porte.
Materiais:
Devem adequar-se aos objetivos da disciplina, em
geral, e à faixa etária do educando. É preferível
construir materiais a adquirir modelos que não estejam
adequados.
Para o material a ser adquirido, observar que:
- os atlas destinados às séries iniciais
devem conter mapas muito simples, com poucos elementos;
- os Obras Ficcionais e Não-Ficcionais e didáticos
devem ter linguagem simples, textos não muito longos e
ser bastante ricos em ilustrações;
- é fundamental a existência de planta da sala de
aula, da Escola e arredores e do Município, em tamanho
mural, nas salas de CB a 4ª séries, nos seus respectivos
espaços;
- recortes de jornais e revistas, fotos (inclusive postais), ilustrações
e rótulos devem compor o acervo de materiais de salas-ambiente
do ensino fundamental;
- o quadro negro deve compor a sala-ambiente (com área
plenamente utilizável), assim como os murais.
Outros materiais desejáveis:
- globo terrestre, mapas murais, jogos pedagógicos,
enciclopédias e outros materiais de consulta, material
para montagem e modelagens, aparelhos para medição
de elementos climáticos, materiais para produção
e reprodução de textos, maquetes, cartazes, sinais
de trânsito e outros signos, mostruários de rochas
e minerais e aparelhos para orientação, recursos
audio visuais (vídeo, slides, transparências, aerofotografia
etc.).
Uso
dos Materiais
A construção do conhecimento em Geografia
faz-se principalmente a partir de idéias, vivências
e discussões, de leituras da realidade, cujo entendimento
pode ser muito facilitado pelo uso amplo e adequado dos materiais.
Assim sendo, usamos os elementos de representação
cartográfica para o registro de dados, um caminho para
a interpretação dos fatos. Este deve ser o uso adequado
para o globo terrestre, o atlas, o mapa mural, a feitura de gráficos,
a construção de tabelas etc.
Nesta mesma direção, é muito
útil e eficaz construir textos, elaborar materiais, utilizar
jogos e outros recursos similares sempre que estas práticas
estejam ligadas a um processo de percepção orientada
de discussão e de interpretação dos fatos
da realidade geográfica, que nos permita avançar
na compreensão dos mesmos.
Considerando-se que a compreensão da rotundidade
da Terra só se dá efetivamente em faixa etária
posterior, é preferível estimular o uso individual
do globo terrestre nas séries iniciais (pequenos globos
para serem trabalhados com pequenos grupos, é uma saída
viável).
Objetiva-se propiciar que o educando reconheça
e se acostume com as características da forma do planeta.
O uso do mapa mural deve contemplar a posição horizontal,
tendo em vista que o educando, na faixa etária equivalente
às séries iniciais e intermediárias, ainda
não abstrai plenamente o processo de representação
terrestre.
É importante pensar sempre na forma mais
adequada de utilizar o material, pois não é necessariamente
a sua existência, mas sim a forma correta de usá-lo
que garante a sua eficácia na consecução
de nossos objetivos.
A
aula na sala-ambiente de Geografia
A aula na sala -ambiente deve levar em consideração
que:
- a explanação do professor, quando
necessária, deve servir como problematização,
orientação e encaminhamento de questões,
sem perder de vista o processo de construção do
conhecimento pelo aluno;
- a informação deve ser tratada como elemento de
análise, considerando-se que ela está presente nos
meios de comunicação de massa, porém não
deve ser apresentada como algo pronto e irreversível, que
deva ser incorporado a priori. Exemplo, o importante não
é saber que Brasília é a capital do Brasil,
mas sim conhecer porque é capital e o que representa.
É fundamental que o educando participe do
processo de produção do conhecimento com sua vivência,
sendo de mediação o trabalho do professor. A aula
deve se desenvolver com o uso de textos e de uma boa diversidade
de materiais, com vistas à construção do
conhecimento, com base na leitura da realidade, que inclui a vivência
do aluno.
Para tanto, planejar a aula, selecionando previamente
os recursos a serem utilizados é essencial. Textos curtos,
com linguagem acessível, problematizadores e esclarecedores,
contemplando múltiplas visões; materiais visuais
que permitam o desenvolvimento de habilidades de observação
(séries iniciais) e decodificação da realidade
(paulatinamente, das séries intermediárias para
as finais); jogos que levem à compreensão de mecanismos
e à fixação de conceitos, a partir da criatividade.
Para estes últimos, é válido alterar regras
propostas e até mesmo criar outros jogos.
A
sala-ambiente no contexto do currículo escolar
A Geografia integra o currículo escolar ao
lado de outros componentes igualmente importantes. Nesse sentido,
materiais da sala-ambiente de Geografia são úteis
também para outras áreas, levando-se em conta que
a realidade não é fragmentária.
Em contrapartida, devemos procurar (e conhecer)
em outras áreas, materiais e dados que podem nos auxiliar
na construção do conhecimento geográfico:
literatura regionalista, instrumento de medição
do tempo, terrários, literatura histórica e de ciências
da natureza, instrumentos de medição linear e de
área etc.
A realidade universalizada deve, portanto, ser um
estímulo e uma preocupação, levando o professor
de Geografia à participação ativa nos projetos
e nas propostas de trabalho interdisciplinares, inclusive com
o uso pleno dos recursos da sala-ambiente. Entenda-se interdisciplinaridade
como participação integral e não como participação
paralela, a partir de uma divisão fragmentada do trabalho.
A interdisciplinaridade pressupõe uma entrosagem de conteúdos
que nem sempre abrange a totalidade da disciplina ou mesmo a abordagem
integral dos temas por mais de uma disciplina.
O
desenvolvimento da Geografia na sala-ambiente, ao longo da série
e do curso
É essencial conhecer com clareza o material
disponível e suas funções. Um mesmo recurso
pode prestar-se a vários temas, vários momentos
e várias situações. A utilização
de um material num determinado momento não o descarta para
situações posteriores. Assim, o professor que utiliza
a sala-ambiente precisa conhecer o alcance de cada material, tanto
para planejar o seu uso quanto para orientar o aluno no acesso
consciente do mesmo em momentos diversos.
Exemplo: O globo terrestre pode ser utilizado nas
séries iniciais para possibilitar ao aluno - através
de seu manuseio - o reconhecimento da forma da Terra. Aliado ao
livro A Noite e o Dia (BRAIDO, Eunice) o educando materializará
as idéias essenciais do mecanismo de origem da sucessão
dos dias.
Nas séries intermediárias, o uso de
material flexionado sobre o globo permite associar corretamente
as modificações de latitude e da longitude à
curvatura e não à distância, como é
usual. Conjugado ao livro As Descobertas de Zasp (SARTORELLI,
GUERRA, SERRANO), permitirá o reconhecimento do mecanismo
dos movimentos da Terra.
Nas séries finais, além da exploração
das relações oriundas da rotundidade da Terra, o
globo terrestre permitirá, entre outras coisas, compreender
essencialmente os fluxos das relações internacionais.
A sala-ambiente
e os procedimentos da disciplina
A dinâmica do conhecimento geográfico
e a amplitude do mesmo nos devem levar a:
- utilizar a sala-ambiente como um dos momentos
da construção do conhecimento geográfico
e para o fichamento de algumas questões. Sair da sala de
aula para o pátio, para os arredores da Escola e para a
realização de atividades de estudo do meio (trabalho
de campo, visitas etc.) é essencial. Só assim é
que se torna possível desenvolver a observação,
a identificação e a interpretação
dos fatos;
- o material existente na sala é dinâmico no seu
uso e na sua validade. Novas formas de utilização,
de substituição e de acréscimo de materiais
devem ser constantes. Nesse sentido, o aluno deve tornar-se um
elemento altamente participativo na construção de
materiais e na tomada de decisões sobre o uso e a substituição
destes;
- materiais de interesse para a construção do conhecimento
geográfico não são unicamente os existentes
na sala-ambiente de Geografia. No âmbito da escola, eles
podem ser encontrados (e devem ser conhecidos), na biblioteca,
na sala de vídeos (se houver), em outras salas. Fora da
escola existem recursos materiais e humanos importantes. Em suma,
a sala-ambiente não é um espaço fechado e
exclusivo.
Uma
aula na sala-ambiente
Tema selecionado: A Cidade
Temática geral: Leituras do Mundo
Objetivo da proposta: exemplificar, a partir de
um tema pré escolhido, coerente com a temática geral,
uma proposta de trabalho, explorando recursos da sala-ambiente
de Geografia conscientes de sua finalidade e com a sua adequação
ao educando.
Objetivo do tema: construir o conceito de cidade a partir da leitura
do fato urbano na modernidade e na realidade da globalização.
Objetivo da aula: utilizar multimeios adequados às séries
intermediárias do ensino fundamental, numa perspectiva
de interdisciplinaridade e voltados para a construção
de conceitos inerentes à cidade no contexto das relações
cidade e campo, no processo de industrialização
e das relações delineadas pela globalização.
Uma Bolinha no mundo
- apresenta-se um mapa-mundi político e busca-se
questionar o que significam as "bolinhas" e o que representam
como simbologia e como conteúdo significativo;
- um segundo mapa político do mundo será apresentado,
com o título "o que tem de mais?" "Uma bolinha"
de papel laminado e um letreiro identificante mostrarão
TARABAÍ, um pequeno núcleo urbano do oeste paulista.
Pretende-se encaminhar a discussão do que é urbano
e da idéia de lugar no mundo, tendo o urbano como referencial.
Acessos estimulados aos atlas podem completar o reconhecimento
destes fatos.
"Eu quero me revelar"
A construção de conceito de cidade,
em confronto com a idéia que se tem do rural ou do não
urbano será realizada a partir da distribuição,
entre os participantes (divididos em grupos de 4 pessoas), de
fotografias oriundas de:
- fotos tiradas especialmente para a finalidade;
- recortes de revistas, ilustrações de folhinhas
etc.
Tais fotos registrarão fatos urbanos típicos
(vistas aéreas, edifícios, ruas, calçadões,
praças), fatos de identificação dúbia
(quintais de casas de periferia, pequenos núcleos do interior
do país, fábricas isoladas, cestas com produtos,
grupos de pessoas) e fatos típicos de áreas rurais
(culturas, colheitas, áreas não ocupadas com forte
presença do natural, casas típicas, gado etc).
Cada participante, no grupo, deverá definir a identidade
de suas fotos e o elemento que justifica o seu enquadramento,
a ser registrado em um dos 3 cartazes pregados num mural:
- CIDADE
- CAMPO
- ?
Para o último (?) irão os registros
de fotos não definidas, com o motivo da dúvida.
Prontos os cartazes, far-se-á a eliminação
de elementos justificadores constantes em mais de 1 cartaz, podendo-se,
assim, perceber que poucos são efetivamente os elementos
identificantes do urbano e do rural. É preciso recorrer
a fatos mais relevantes do que a paisagem!
O canto da cidade
A canção de Daniela Mercury O canto
da cidade é o elemento motivador, um convite aos participantes
para tentar reconhecer os sons da cidade. Executada, num gravador,
até "...o canto desta cidade é meu..."
serão exibidos aos participantes alguns sons (animais,
buzinas, máquinas em funcionamento, roda dágua
etc).
Os grupos são instados a discutir a origem
(urbano ou rural) dos sons. Algumas conclusões poderão
ser acrescidas aos conceitos de cidade.
Leia-me
Avançando na construção do
conceito de cidade, cada grupo receberá um texto (poético,
prosa, jornalístico, literário, didático)
sobre "coisas" ou fatos da cidade. Serão textos
curtos, simples, referenciados, com linguagem acessível
e que serão utilizados para construir conceitos, apresentando-se
painéis.
Caçando um Tesouro
Será proposto que cada grupo busque encontrar,
na sala, um objeto típico da cidade. Encontrados os objetos,
os grupos justificarão o porquê de identificá-lo
como tipicamente urbano.
Você na minha vida
Grupos em menor número (em torno de 8 elementos)
receberão 6 a 8 fotos cada, componentes de uma seqüência
de fases de produção/transporte/ comercialização.
Essas seqüências serão montadas de forma livre
e, após este processo, ajudarão o grupo a responder
duas questões:
- QUEM SOU ?
- OUÇA A MINHA HISTÓRIA
A primeira deverá identificar o produto objeto
da seqüência. Na segunda, será contada a história
do produto na seqüência dando-se ênfase ao caminho,
campo-cidade-campo. É válido utilizar os mais variados
recursos no painel: mapas, cartazes, tabelas, gráficos
etc. Histórias e identificações poderão
ser discutidas para auxiliar a construção de conceitos.
A história e o personagem podem também ser referentes
ao trabalhador.
Pretende-se com esta atividade, inicialmente, incentivar
o educando a uma pesquisa a partir da motivação
da realidade representada pelas fotos. Nesta pesquisa, poderão
e deverão ser utilizados recursos que possam subsidiar
a identificação do produto em termos de características,
localização, circulação, transformação,
consumo etc.
No entanto, todo este processo implica em um sistema
de relações cidade-campo, para o qual é decisivo
o papel do: "TRABALHO". O "TRABALHO É EXECUTADO
POR ALGUÉM", cuja atuação nem sempre
fica clara numa simples descrição da foto.
Aí está o papel fundamental da Geografia
construtora de cidadania: revelar a presença marcante e
fundamental do "homem", não somente um mobilizador
das forças naturais, mas razão de ser da própria
construção do espaço geográfico, com
todas as suas contradições, por isso o espaço
não é o território físico, mas o resultado
de sentimentos, ações, anseios, inclusões
e exclusões, que só são factíveis,
com a presença do ser humano, e nunca do homem-número.
Observação: O texto abaixo poderá
ser utilizado como preâmbulo.
Minha história é uma história
de trabalho
Não nasci espontaneamente, não me
desloquei por iniciativa própria, não mudei e nem
fui consumido simplesmente porque minhas forças me dessem
direito a isto.
No meu caminho há pessoas, gente que trabalha
e que sobrevive em função de seu esforço.
Mãos que me levam a crescer e a mudar, mãos que
me transformam e me apresentam sob formas atraentes e, às
vezes, até sofisticadas.
Minhas marcas são dadas por aqueles que se
apropriam do trabalho, daqueles que me criam e transformam. Seus
nomes desaparecem neste percurso. Ao contar minha história
faço justiça a eles, presentes no campo, presentes
na cidade. Embora, muitas vezes, excluídos de usufruto
daquilo que me transformei.
Observação: Ouvindo música
para refletir.
Cidadãos, interpretada por Zé Ramalho
Afinal o que é cidade?
Destina-se ao fecho e possibilita a avaliação
do trabalho.
Cada grupo (situação original, com 4 elementos)
fechará o assunto com a construção de um
cartaz, buscando uma tentativa de resposta à questão
proposta.
Um recado:
Lembre-se de que a Geografia lhe propicia uma imensa
diversidade de oportunidades para que seus alunos criem e construam
o conhecimento, combinadas com a sua capacidade de utilizar os
recursos de uma sala-ambiente e de estimular o trabalho; a avaliação
torna-se um desafio estimulante para encontrar formas de valorizar
tudo o que se pode realizar.
Elaboração:
Álvaro José de Souza - ATP - D.E. Botucatu
Elza Helena Marqueti - ATP - D.E. Franca
Isabel Martins - ATP - D.E. Adamantina
Luciene M.de Albuquerque Ramos -
ATP - D.E. Mirante do Paranapanema
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